sábado, 17 de março de 2012

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

A Análise do Comportamento é uma área de investigação conceitual, empírica e aplicada do comportamento. Busca predizê-lo e compreendê-lo, bem como os seus determinantes. Ela procura entender o ser humano em sua interação com o meio.
Ao falar de Análise do Comportamento, deve-se falar também de B. F. Skinner (1904-1990), um importante pesquisador que influenciou sobremaneira a forma como hoje vemos o behaviorismo. Skinner acreditava que o comportamento humano, por mais complexo que fosse, pode sim ser estudado cientificamente, e mostrou em seus estudos que é possível, e plausível, a união de uma ciência do comportamento com fenômenos complexos e subjetivos ao ser humano, como a emoção.
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, emoção consiste numa reação orgânica de intensidade e duração variáveis, geralmente acompanhada de alterações fisiológicas e de excitação mental.
Ao longo da nossa história filogenética, desenvolvemos comportamentos necessários à sobrevivência da espécie, chamados de reflexos inatos. Consistem em alterações no ambiente que produzem uma alteração no organismo, preparando-o então para interagir com esse ambiente, representando um conjunto de comportamentos e relações fixas, involuntárias e automáticas, características de cada espécie, desde a vida uterina. Assim, contraímos os músculos quando tocamos uma superfície quente; salivamos aos entrar em contato com alimentos; e temos também reações emocionais diversas que nos ajudam em determinadas situações. (BORGES & CASSAS, 2012; MOREIRA E MEDEIROS, 2007, RANGÉ & Col, 2001)
As reações emocionais (medo, alegria, raiva, tristeza, excitação sexual, ansiedade etc.) possuem um valor de sobrevivência à espécie, na medida em que reações fisiológicas nos preparam a reagir de acordo com a situação em que estamos. Essas emoções surgem em contextos específicos, ou seja, estão vinculadas a algum evento ambiental que as ativou, mesmo que esse evento não esteja explícito no momento.
Skinner (1974) enfatiza que a emoção não é causal, ou seja, a emoção não é a origem de um comportamento. A “causa” faria parte de uma cadeia, composta pelos elos comportamento, emoção e evento externo anterior. “O elo médio [emoção] pode ser tomado tanto como psíquico quanto como fisiológico. No caso psíquico, argumenta-se que uma circunstância externa faz com que o indivíduo se sinta emocional e o sentimento o leva a encenar a ação apropriada. (p. 176)”.
É importante destacar que, para Skinner, a natureza daquilo que acontece dentro da pele não difere de qualquer comportamento observável. Dessa forma, a emoção, mesmo sendo um comportamento privado (um evento que pode ser observado apenas por aquele que se comporta), deve ser levada em conta e estudada com base nos mesmos princípios dos comportamentos públicos, observando a tríplice contingência: que expressa as relações entre o organismo e seu ambiente, ou seja, a ocasião, a resposta e suas conseqüências.
Um fenômeno de grande complexidade como a emoção precisa levar em consideração os vários mecanismos e eventos que influenciam de alguma forma os estímulos que participam de suas relações. Não é, portanto, apenas uma alteração no organismo. Quando um indivíduo anuncia alguma emoção (estou zangado, por exemplo), traz consigo uma predisposição para agir de maneiras específicas (como emitir respostas de agredir, xingar, ter os batimentos cardíacos aumentados, franzir o cenho – no caso de estar zangado, por exemplo). “Os nomes das assim chamadas emoções servem para classificar o comportamento em relação a várias circunstâncias que afetam sua probabilidade (p. 178)”. É dessa forma, então, que Skinner (1974) relaciona a emoção como sendo uma alteração na predisposição à ação.
Skinner (1974) também afirma que algumas emoções alteram apenas uma parte do repertório do organismo, como simpatia e divertimento, enquanto outras alteram-no como um todo, como tristeza e alegria. Porém, conforme afirma Thomaz (2011), denominações como simpatia, divertimento, tristeza e alegria devem ser usadas com cuidado e parcimônia num contexto de análise do comportamento, pois esses termos podem constituir-se em rótulos, não explicitando todas as contingências que atuam nesses eventos. Skinner (1974) também aponta para isso quando afirma que “as respostas que variam juntas em uma emoção o fazem em parte por causa de uma conseqüência em comum (p. 179)”, o que não indica necessariamente o todo ocorrido.
Quando um tipo de comportamento opera sobre o ambiente, e é afetado por suas modificações, em que sua maior fonte de controle encontra-se nos estímulos conseqüentes, recebe o nome de comportamento operante. O tipo de conseqüência que altera a probabilidade do comportamento acontecer é o reforço. Toda a história de reforçamento de um indivíduo influencia na sua aprendizagem, e é essa aprendizagem que o fará associar eventos passados de sua vida com situações atuais que desencadearão classes de respostas emocionais. (SKINNER, 1974; BORGES & CASSAS, 2012; MOREIRA E MEDEIROS, 2007, RANGÉ & Col, 2001)
Mesmo assim, uma emoção não pode ser reduzida a uma única classe de resposta ou atribuída a um único conjunto de operações. Uma emoção desencadeada por uma circunstância pode ter um aspecto diferente numa outra ocasião.
É importante destacar que ao longo da vida, os indivíduos passam constantemente por situações de aprendizagem, em que determinados comportamentos são reforçados e outros não. Respostas previamente condicionadas são constantemente emparelhadas a estímulos neutros e a outras respostas anteriormente condicionadas, desencadeando condicionamentos de ordens múltiplas, aumentando sempre mais a complexidade do comportamento humano, inclusas aí as emoções.
Conclui-se assim, que para a análise do comportamento, a emoção se refere a uma alteração na predisposição para a ação, e não a um estado do organismo. Ela consiste nas relações onde há alterações em um amplo conjunto de comportamentos e de operações ambientais, numa mudança no repertório do indivíduo, incluído aí os respondentes fisiológicos, como respostas dos músculos e glândulas. É importante que as emoções sejam analisadas com base nas relações entre organismo e ambiente, e não apenas com base nas mudanças fisiológicas, tendo sempre em vista sua constante complexidade.

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